Bíblias Completas e Bíblias Incompletas
Velha questão muito agitada entre protestantes e católicos é a relativa ao número de livros da Escritura Sagrada. Sempre dizemos - e com razão - que a Bíblia protestante é incompleta; faltam-lhe vários livros do Antigo Testamento e mais de um do Testamento Novo.
Replicam os irmãos separados que a nossa Bíblia Católica é que tem laivos de falsidade, porque encerra livros que não são inspirados por Deus. Todos aqueles escritos que lhes objurgamos não existir nas suas Bíblias dizem eles estar demais nas nossas porque são apócrifos e falsos. Como se vê, é unia questão muito séria, que torna necessário tirar a limpo. Porque, no caso, uma das Bíblias incide em grave engano: ou a dos protestantes por deficiência, ou a dos católicos por exagero. Quem, pois, tem razão? A Bíblia católica ou a Bíblia protestante?
Doutra parte, diz São Paulo que “toda Escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, para arguir, para corrigir, para educar na justiça”. Mas se a Bíblia católica encerra livros não divinamente inspirados; já estes livros não são úteis aos fins apontados por S. Paulo. E, se eles são, na verdade, inspirados e os protestantes não os possuem e até os acoimam de falsos, então a história é muito mais séria e grave, porque se trata do desprezo formal das divinas Escrituras.
Antes de tudo, digamos que, no caso de permanecer a dúvida sobre a inspiração de tais livros que os católicos têm em sua Bíblia e os protestantes refugam na deles, a condição da Bíblia católica é muito melhor. Antes ter tais livros, ainda que não inspirados, e lê-los para se edificar, do que, em face de dúvida tão séria, assacar-lhes a pecha de livros espúrios, sendo que, afinal, muita gente santa e sábia, como Santo Agostinho, os aceitou qual palavra de Deus.
Este assunto tão relevante, inspira-me tratá-lo o fato de recentemente me enviarem para refutação um pasquim protestante intitulado: BÍBLIAS CATÓLICAS E BÍBLIAS PROTESTANTES, de um tal pastor Antônio Ambrósio. O pasquim intenta dizer aos católicos que a Bíblia católica encerra livros apócrifos e que devem ser rejeitados. Chega mesmo a afirmar que “a Bíblia pura contém apenas trinta e nove (39) livros do Velho Testamento e que os livros a mais defendidos pela Igreja Romana não são de origem divina e, portanto, não são dignos de fé” (p. 3). Alega argumentos muitíssimo frágeis que ele chama de evidência externa (como: o testemunho de Jesus, de Flávio Josefa, de Orígenes, de S. Jerônimo, etc.) e evidência interna (o fato
de os tais livros apócrifos ensinarem pontos de doutrina que as outras Escrituras não abonam) para, assim, concluir que “A BÍBLIA PURA É A USADA PELOS EVANGÉLICOS, sem acréscimos nem diminuições”.
Inegavelmente, o pobre pastor não sabe o que é evidência porque toma por “evidente” o que nem “provável” é, e nem “verossímil”. Mas, infelizmente, em face dos poucos conhecimentos do vulgo sobre o assunto, a brochura gera não pequenas confusões. E como se trata de tema sempre evocado pelos reformados, é bom se faça luz sobre o assunto para vermos quem tem razão.